Àquela noite não tinha inspiração alguma. Precisava dar uma volta,
espairecer, esfriar a cabeça, tentar arranjar os seus neurônios, os
poucos neurônios que ainda tinha em funcionamento. Andou a esmo pela rua. Atravessou a Praça da Alfândega e, caminhando
sempre, foi dar no cais. Cruzou o grande portão e olhou para o rio. Lá
no fundo do horizonte ainda se podia ver resquícios do pôr do sol,
riscas de vermelho lilás e laranja, lutando contra a escuridão da noite
que invadia a cidade. Era o último grito sufocado do dia que se
esvaía... Seguiu pela borda do cais, entre guindastes enormes e assustadores.
Silhuetas de gigantes imaginários. Caixas e sacos empilhados. A paisagem
do rio às vezes era interrompida por um enorme navio atracado. Mancha
escura pontilhada, aqui e ali, de janelinhas amareladas de luzes fracas.
Um ou outro marujo subia ou descia a rampa de acesso dos navios.
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