O resgate da arte sacra como elemento fundador da cultura
colonial no território americano sob o domínio de Portugal é o tema
central desse amplo estudo realizado por Rafael Schunk. Para confirmar
sua tese, o autor se baseia em três fatos históricos: a miscigenada
sociedade paulista do século XVII, prenúncio de um país mestiço e
sincrético; a obra de frei Agostinho de Jesus (c.1600/1610-1661), tido
como o primeiro artista brasileiro; e a produção artística de frei
Agostinho a partir de sua instalação no mosteiro dos beneditinos de
Santana de Parnaíba, interior de São Paulo. Para o autor, a atuação de frei Agostinho de Jesus no mosteiro paulista
marca o início da escultura brasileira, verdadeiro prelúdio da arte
nacional, na medida em que distante das influências externas do barroco
português em voga no litoral, ele cria uma arte com características
próprias, símbolo da integração entre povos. A partir de meados dos anos 1600, Santana de Parnaíba favorece o
surgimento da imaginária nacional ao agregar fusões culturais,
anunciando a sociedade mestiça, original e sertaneja, que os
bandeirantes irão semear, posteriormente, no barroco do Centro-Oeste e
mineiro. De acordo com o autor, as imagens criadas por frei Agostinho
naquela cidade tornam-se precursoras de uma das mais antigas escolas de
escultura religiosa remanescentes no país. A partir desses eventos, são identificadas as escolas culturais
paulistas. A do Vale do Tietê, formada por artistas conventuais e que
influenciou a arte nos primeiros arraiais do Centro-Oeste, e a do Vale
do Paraíba, de onde partiram os bandeirantes transportando as
experiências do interior de São Paulo para se tornarem os pioneiros na
edificação do barroco mineiro. Para a produção deste estudo inédito, Schunk realizou extenso trabalho
de campo - investigando documentos, fotografando e medindo imagens
sacras - em instituições públicas, coleções particulares, bibliotecas,
livros de tombo, museus, igrejas localizados em dezenas de cidades
históricas paulistas, fluminenses e baianas. O terceiro capítulo traz
fotos de imagens sacras, minuciosamente analisadas pelo autor.

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