A
obra de Gregory Bateson marcou profundamente o pensamento do século XX e a teoria
da comunicação em particular. Desenvolver um trabalho que aprofundasse e
problematizasse as ideias deste epistemólogo da comunicação constituiu, desde o
início, um desafio que se veio a revelar extremamente gratificante, como
gratificante é vê-lo agora publicado em livro. O legado principal da sua obra
prende-se com o facto de o indivíduo ter sido deslocado para o seio do grupo,
identificado como um sistema feito de unidades relacionadas entre si pela
comunicação. O indivíduo não é uma entidade separada, resulta das relações com
o Outro. Este primado da relação traduz-se no primado da comunicação. Ela é o
princípio fundador, a partir do qual tudo o resto surge. A comunicação tornaria
as relações transparentes; conhecendo as suas regras, tudo seria prevísivel e
controlável. No entanto, esta comunicação auto-reguladora é, tal como Bateson
constatou no final da vida, insuficiente no que diz respeito à acção interior
de cada um. O que parecia servir como modelo para a interacção social, deixa de
o ser para um micro-nível. A mente não tem capacidade para conhecer os
processos que desencadeiam a percepção, oferecendo apenas notícias do produto.
Estas “incapacidades”, esquecidas durante um longo percurso, tornam o ser
humano menos controlável e mais imprevísivel, com toda a sensação de liberdade
que daqui advém, mas também o reconhecimento da insatisfação por uma vez mais
não se ter conseguido tocar o universal.
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