Num artigo publicado um dia antes da sua morte, G. K. Chesterton
considerou "O Homem Que Era Quinta-Feira", publicado em 1907, «um tipo
de devaneio bastante melodramático». Na sua Autobiografia de 1936
afirmara tratar-se de um pesadelo «não das coisas tal como existem, mas
como pareciam ser ao semipessimista da década de 90».
O livro tem sido considerado a obra-prima de Chesterton. Embora seja
muitas vezes considerado um thriller metafísico ou um pesadelo
teológico, desafia, na verdade, toda e qualquer classificação. Numa
Londres fantasmagórica, os polícias são poetas, os anarquistas não são o
que parecem. A narrativa tem a ver com o ambiente de final do século
XIX e o terror das conspirações anarquistas. Mas, como muitas vezes
acontece com as criações de Chesterton, o mistério acaba por envolver
enigmas teológicos, a liberdade da vontade e a existência do mal sob a
forma do irracional.
O protagonista Gabriel Syme é um poeta empenhado na luta contra o caos,
que foi recrutado pela secção contra-anarquista da Scotland Yard. Um dia
um poeta anarquista com quem discutira poesia e os méritos da
previsibilidade leva-o a uma reunião local para provar que é um
autêntico anarquista. É então que Syme consegue ser eleito como
representante local para o Concelho Central de Anarquistas, integrado
por sete homens, cada um deles com um nome de um dia da semana e vestes a
condizer. Domingo é o mais misterioso de todos, afirmando que «desde o
princípio do mundo que todos os homens me têm perseguido como se
caçassem um lobo: os reis e os sábios, os poetas e os legisladores,
todas as igrejas, e todas as filosofias. Mas nunca me apanharam ainda, e
os céus hão-de cair sem que eu tenha sido encurralado». E a verdade é
que consegue abalar as convicções de Syme numa Ordem Universal.
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