Última peça escrita por Shakespeare, A tempestade é
uma história de vingança, é uma história de amor, é uma história de
conspirações oportunistas e é uma história que contrapõe a figura
disforme, selvagem, pesada dos instintos animais que habitam o homem à
figura etérea, incorpórea, espiritualizada de altas aspirações humanas,
como o desejo de liberdade e a lealdade grata e servil. Uma
Ilha é habitada por Próspero, Duque de Milão, mago de amplos poderes, e
sua filha Miranda, que para lá foram levados à força, num ato de
traição política. Próspero tem a seu serviço Caliban, um escravo em
terra, homem adulto e disforme, e Ariel, o espírito servil e assexuado
que pode se metamorfosear em ar, água ou fogo. Os poderes eruditos e
mágicos de Próspero e Ariel combinam-se e, depois de criar um naufrágio,
Próspero coloca na Ilha seus desafetos (no intuito de levá-los à
insanidade mental) e um príncipe, noivo em potencial para a filha. Se o
amor acontece entre os dois jovens, se a vingança de Próspero é
bem-sucedida, se Caliban modifica-se quando conhece os poderes
inebriantes do vinho numa cena cômica com outros dois bêbados, tudo isso
Shakespeare nos revela no enredo desta que por muitos é considerada sua
obra-prima – uma história de dor e reconciliação.
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