Quando escolhemos o tema dessa edição, imediatamente nos ocorreu
buscar o depoimento daqueles que julgávamos sem medo: os evictos.
Aqueles que, por estarem condenados por uma vida à reclusão; por viverem
na total promiscuidade corroendo seu amor-próprio; por terem esquecido
as condições de sociabilidade e já não terem mais qualquer esperança,
são donos do mais absoluto “nada a perder”. Puro engano — se há vida, há medo. Logo descobrimos o conceito que norteia esse número de Leituras
Compartilhadas: se alguma espécie, em qualquer tempo, não teve medo,
então essa espécie foi extinta. O medo é o mais básico dos instintos e está ligado à sobrevivência. Não só à sobrevivência física, à dor e à morte da matéria. Ele está ligado, também, à manutenção de uma situação confortável. Na
psicologia, confortável não é o que é agradável, mas o que não nos
ameaça com mudanças. Vem daí o nosso medo de tudo: do desconhecido, do novo e até da
felicidade.E também do escuro, de altura, de solidão, do outro etc. Como se isso não fosse o bastante, o medo nos é ensinado
caprichosamente, por tudo e por todos, ao longo da vida. Quem nunca
escutou dos pais um grito tenso dizendo — “cuidado”.
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