Em “A ilha de hélice”, Júlio Verne reúne dois de seus assuntos
prediletos: a vida em um ambiente restrito (o enclausuramento) e a idéia
da reconquista do paraíso. Casam-se, na narrativa, dois temas: o do éden, o paraíso terrestre
reconquistado, e a idéia de que o homem ainda não faz por merecê-lo. E
neste último caso, Verne aciona igualmente a sátira: ao mesmo tempo que
exalta essa obra-prima da técnica, transforma seus habitantes num
retrato da humanidade, pois a ilha é palco de uma luta interna,
desarrazoada, que termina por destruí-la. As duas famílias mais importantes do lugar disputam ferozmente o
domínio total da ilha, e Verne explora ao máximo essa divisão
maniqueísta, não raro tecendo comparações com a Guerra de Secessão dos
Estados Unidos, que muito o impressionara. Vai ainda mais longe,
introduzindo o tema de Romeu e Julieta: o filho de uma das famílias ama a
filha da outra; é claro que nenhuma das famílias deseja o romance
deles. A catástrofe geral que acaba por destruir a ilha é fruto da posição
intransigente dos dois chefes de família, que pensam exclusivamente nos
seus interesses pessoais. Júlio Verne quis, evidentemente, apontar para o
perigo de posições extremadas em blocos antagônicos, quer no terreno
político-econômico, quer na faixa religiosa. E nem se diga,
infelizmente, que tais preocupações estão ultrapassadas…
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