O divino marquês, que passou quase metade de sua vida entre prisões e sanatórios, extremado individualista, ateu convicto, capaz de escandalizar gerações e ser censurado um século e meio após sua morte, até mesmo ele teve seu momento de fraqueza. Pois o Sade dessas novelas acaba capitulando diante de uma idéia que combatia obsessivamente – o amor. Eis o verdadeiro Sade clandestino, aquele que observa as convulsões dos sentimentos, em vez dos desregramentos dos sentidos. Nem por isso deixou de ser criminoso – só que, aqui, são crimes cometidos por amor, não meramente por prazer. A Condessa de Sancerre e Dorgeville, dois dos personagens destas quatro novelas, continuam devassos, mas, ao contrário do que ocorre em Justine, sua devasidão é ditada por um certo enternecimento.
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