A problemática urbana sobre a qual nos
debruçamos na presente pesquisa referese aos processos de degradação da
vida dos habitantes da metrópole, não apenas material, mas, sobretudo,
resultante do empobrecimento das possibilidades de apropriação dos
lugares da cidade. Tal apropriação se reduz, dialeticamente, pelas
estratégias de dominação do espaço, que impõem normas ao uso do espaço
pelos habitantes como condição necessária a um espaço produto, condição e
meio da acumulação capitalista. Todavia, a normatização da vida pelo
regramento do uso do espaço não se realiza sem conflitos. A população
urbana, nos momentos da vida cotidiana, transgride-a constantemente como
meio de sobrevivência a uma cidade produzida sob a égide capitalista,
que possui como centro a acumulação do capital, em detrimento da
reprodução da vida. É nesta perspectiva de desvendar as estratégias de
normatização do uso e as transgressões diante o processo de dominação do
espaço que a pesquisa se insere, tratando de compreender a produção de
um lugar na metrópole paulistana, que se apresenta contraditoriamente
como um espaço de normatização e transgressão na medida em que se
constituiu como uma centralidade na periferia. Esta reflexão se
construiu a partir do conhecimento dos sujeitos que produziram o espaço
da Favela Monte Azul - zona sul do município de São Paulo - destacando
as ações de uma organização não governamental chamada Associação
Comunidade Monte Azul, por entender seu papel de destaque na produção da
singularidade desta favela diante as demais da metrópole. Para tanto,
analisamos as bases de sua matriz discursiva, as estratégias e ações e,
principalmente, as articulações entre os sujeitos existentes na favela
por meio do processo de \"urbanização da favela\" e das atividades
culturais - teatro. A hipótese orientadora da pesquisa fundamenta-se,
portanto, na idéia de uma urbanização que aprofunda a degradação da
vida, produzindo tensões e conflitos ainda mais violentos que podem
impedir a reprodução das relações de produção, levantando \"barreiras\"
ao processo de acumulação. Para não interromper o ciclo, uma das
estratégias utilizadas é a dominação do espaço pela territorialização de
instituições na periferia, que levam a cabo as normas elaboradas pela
ordem distante (Estado/empresas privadas). Estas instituições, como as
organizações não governamentais, tentam diluir as formas de organização e
participação popular conforme introduzem a população às normas da
cotidianeidade, isto é, às normatizações do uso através da legitimidade
dada pela forma da propriedade e gestão dos serviços prestados. Contudo,
essas mesmas instituições, na medida em que \"absorvem\" os conflitos,
encontram-se em uma crise de sua própria reprodução.
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