Através do estudo do processo de desindustrialização e da reestruturação
em curso de um fragmento da metrópole de São Paulo, a pesquisa busca
compreender aspectos da reprodução da urbanização no momento atual. Este
fragmento, situado ao norte do distrito de Santo Amaro, constitui-se a
partir da grande industrialização das décadas de 1950/60/70, como uma
área industrial e um local de moradia da classe operária. A indústria
foi o principal indutor da urbanização do lugar, organizando a sua vida
social, constituindo-se em sua principal referência, produzindo uma vida
cotidiana fragmentada. Verificamos, no entanto, que há um período
relativamente curto de estabelecimento da indústria aí, pois já a partir
do final da década de 1980 se verifica o início do declínio industrial
no fragmento, processo que se intensifica na década de 1990 e se acentua
ainda mais no momento atual. Com isso, há uma desintegração da vida
social no fragmento decorrente da saída ou do fechamento de indústrias,
já que bares fecham, espaços de moradias operárias são desocupadas e
demolidas, muitos edifícios e terrenos industriais permanecem
abandonados. Ao mesmo tempo, este espaço de desindustrialização, por ter
uma localização privilegiada em relação a áreas já consolidadas como
centralidades de negócios, passa a receber empreendimentos ligados às
lógicas "modernas" do eixo empresarial sudoeste. Identificamos hoje,
como momento inicial de transformação do fragmento, processos
indicativos da passagem de uma área industrial para uma área voltada
para novas atividades terciárias, o que é evidenciado pela instalação de
grandes empreendimentos de eventos e shows e de novos condomínios
residenciais de médio-alto padrão. Como tendência, este espaço de
desindustrialização pode vir a se tornar uma área de valorização,
colocando-se como a extensão das centralidades de negócios que
historicamente se expandem na metrópole de São Paulo em direção sudoeste
(Centro Histórico-Paulista-Faria Lima-Berrini). Esta expansão do eixo
de negócios na metrópole se configura como um processo amplamente
subsidiado por ideologias disseminadas na sociedade (emplacadas pelos
discursos empresariais que são encampados pelo Estado) - com destaque
para a ideologia do progresso (do crescimento ilimitado), que aparece
como desenvolvimento social, como se a incorporação de áreas ao circuito
das atividades "modernas" e da valorização fosse benéfica para todo o
conjunto da sociedade. Como hipótese central do trabalho, verificamos
que esse processo contribui decisivamente para um aprofundamento da
fragmentação da vida cotidiana daqueles que ali vivem, pois as novas
relações que se impõem no fragmento, desintegradoras das relações
pretéritas (a prática sócioespacial, já fragmentada, da indústria),
criam diferenciações no uso do espaço, produzindo novas separações,
segregando as pessoas que moram ali. Assim, há um aprofundamento da
fragmentação da vida cotidiana com as transformações em curso, pois elas
criam uma nova prática sócioespacial em que o uso do espaço é cada vez
mais mediado pela lógica do valor de troca. Ou seja, com o avanço das
atividades terciárias, voltadas para um consumo de médio-alto padrão,
com a sua espacialidade característica, avançam novas relações que
implicam mudanças profundas na vida das pessoas do lugar, tornando
incerta a permanência dessas pessoas aí. Assim, a pesquisa busca
contemplar duas lógicas conflitantes no urbano - a da transformação do
fragmento em fronteira econômica, com a expansão de centralidades de
negócios (devido a disponibilidade de terrenos e a localização
privilegiada) e a do lugar como moradia e espaço da vida de muitas
pessoas.
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