Poucos assuntos têm sido mais abordados que o da água. Página22, por exemplo, há tempos dedica edições inteiras ao tema. O que durante anos foi ventilado por especialistas como um problema crônico se tornou alvo de intensa cobertura da grande mídia mais recentemente, quando o problema ganhou contornos de crise e mostrou os riscos agudos de um desabastecimento em larga escala em grandes regiões metropolitanas. Riscos que crescem agora, com o fim da estação chuvosa. Mas tanta informação e conhecimento acumulado sobre o assunto ficam em descompasso com ações efetivas de enfrentamento do problema. Em entrevista nesta edição, Fernando Reinach, que há anos acompanha de perto o sobe e desce do Cantareira, recorda-se de uma prática comum na contagem do volume armazenado: sempre que atingia um nível baixo na represa, mudava-se o “zero” para um ponto mais baixo ainda na escala, passando o recado de que o consumo está no azul, quando o “cheque especial” é que está sendo usado. A culpa seria somente do governante? Não. O entrevistado chama a responsabilidade para todos, lembrando que políticos que priorizam medidas preventivas e de longo prazo dificilmente são reeleitos. A crise da água simboliza bem o desafio da sustentabilidade, representado pela dificuldade que temos, especialmente no Brasil, de agir pensando nas necessidades futuras, de colocar o planejamento no topo da lista e de adotar uma visão sistêmica. Este seria mais um aprendizado que vem pela dor, o que o senador Cristovam Buarque chama de pedagogia da catástrofe.
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