Publicado em 1891, O Barão de Lavos é um dos romances da série intitulada “Patologia Social” em que Abel Botelho – professado seguidor do chamado neo-realismo – explora, expõe e põe em claro, fenómenos sociais do final do século XIX até então ignorados pela sociedade ou romantizados de uma forma não credível. O Barão de Lavos é o primeiro livro dessa série que abre logo com temas inéditos na literatura portuguesa até então: A homossexualidade e a pedofilia. Há quem eleve esta obra como sendo a primeira obra a abordar o tema da homossexualidade na literatura portuguesa. Outros preferem fazer apontar para o facto que o tema em destaque é a crítica à pedofilia e que a obra de Mário de Sá-Carneiro “A Confissão de Lúcio”, escrita mais de 20 anos depois, é que é a primeira a incluir o tema da homossexualidade objetivamente. É uma discussão com pontos de validade para ambas as reivindicações. Por um lado é um facto de que o tema da homossexualidade está presente no O Barão de Lavos; acontece que no século XIX a homossexualidade era indissociável da pederastia e da pedofilia, uma das razões pela qual era fortemente criticada e perseguida. Por outro lado a obra é uma crítica à homossexualidade em si, vista como uma doença patológica e uma degeneração do individuo que só pode ter como fim a sua própria destruição. É, no fundo, uma obra que trata o tema sob o ponto de vista de um objetor da homossexualidade e que a associa à pedofilia. Mário de Sá-Carneiro, por seu lado, como homossexual que era, aborda o tema expondo o seu lado pessoal, ainda que sob uma vertente romantizada e sem fazer qualquer tipo análise de fundo. Posto isto, o rótulo de “1º livro português gay” caberá à escolha de cada um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário