"Eu sou o tropicalismo." A frase
vaidosa não é de Caetano Veloso nem de Gilberto Gil, mas do artista
gráfico, poeta, professor universitário e escritor também baiano Rogério
Duarte, 64. Nem é assim tão vaidosa. Se o tropicalismo for de
fato Rogério Duarte, será também a curva que marca sua própria história
pessoal. De ícone pop de sucesso como artista gráfico entre 63 e 68,
passou a torturado como agitador comunista pelo regime militar, banido
nas "matas baianas" pelo AI-5, esquizofrênico internado em hospícios nos
70, antiícone do ostracismo daí por diante. Citado por Elio
Gaspari no livro "A Ditadura Envergonhada" como co-protagonista de um
dos episódios-símbolo que conduziriam ao terror pós-AI-5, Duarte publica
agora pela primeira vez testemunho de punho próprio. No livro
"Tropicaos", reúne fragmentos e reconstituições de uma extensa obra
literária inédita em que, tomado de medo da perseguição militar, ele
ateou fogo no início dos anos 70. Daquilo só restou o mais
importante: um depoimento sobre a prisão e a tortura escrito no calor da
hora, que só sobreviveu à fogueira porque havia sido antes confiado,
sigilosamente, ao psicanalista Hélio Pellegrino.
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