Cruzando as memórias de um homem de 72 anos que viveu intensamente cada
instante de sua vida com as realidades iníquas e violentas de um mundo
em pé de guerra, e ainda por cima encontrando espaço para uma subtrama
labiríntica de corte fantástico e orwelliano, Auster mostra aqui,em
grande estilo, toda a sua maestria ficcional. August Brill, crítico
literário aposentado, recupera-se na casa da filha, em Vermont, Estados
Unidos, de um acidente de carro em que quase perdeu uma perna. Quando o
sono se recusa a dar as caras, Brill permanece na cama e libera a
imaginação para tecer histórias que o ajudem a desviar o foco mental das
vicissitudes que ele gostaria de esquecer: a morte recente da mulher, o
assassinato do namorado da neta no Iraque e a dolorida solidão da única
filha, abandonada pelo marido.Em meio a divagações de toda ordem, Brill
constrói um mundo paralelo, em que os Estados Unidos se acham mais uma
vez numa guerra civil sangrenta. À medida que a noite em claro avança,
adensa-se a trama do insone, ameaçando engolfar seu próprio criador numa
delirante vertigem autopunitiva. No fim da madrugada angustiante, a
neta Katya vem lhe fazer companhia, com perguntas incisivas que o
remetem a um torvelinho de lembranças, boas e más, do casamento dele com
a falecida Sonia, cantora lírica e mãe de Miriam, com quem dividiu os
grandes momentos de sua vida. Com sua prosa a um tempo refinada e
contundente,Homem no escuro é o romance dos tempos atuais, um livro que
força o leitor a se confrontar com a noite sombria até mesmo quando
celebra uma existência feita de alegrias comuns.
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