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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Mary Del Priore - Matar Para Não Morrer














Em 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha invadiu a casa do bairro carioca da Piedade onde morava o jovem tenente Dilermando de Assis, amante de Dona Saninha, mulher do escritor, disposto a matá-lo. Poucos minutos depois, no entanto, foi o autor de “Os Sertões” quem perdeu a vida, atingido por três balas do revólver do militar. Este livro relata os meses que antecederam a tragédia e mostra que, ignorando fatos, a imprensa da época transformou Dilermando em vilão, rótulo que o perseguiu até o fim. A maioria dos jornalistas e escritores que acompanhou o ocorrido concordava com a idéia de que Euclides estava no seu direito, quando decidiu tirar a vida do seu rival. Essa opinião encontrou respaldo na opinião pública, que crucificou Dilermando, mesmo depois de ele ter sido considerado inocente pelos tribunais. Poucos seriam aqueles que, não levando em conta a versão cristalizada do ocorrido, levantariam dúvidas sobre a versão dos fatos. “A mim a tragédia Euclides-Dilermando me abalou profundamente. Sobre ela meditei muito tempo, dominado pela incerteza. Mas quando conheci todos os detalhes do processo, só então vi, senti em tudo a mão glacial e inexorável da fatalidade – a mesma que levou aos seus crimes o inocente Orestes. E uma coisa até hoje me pergunto: haverá uma só criatura normal das que olham Dilermando com horror, que dentro do quadro daquelas circunstancias, não fizesse a mesmíssima coisa?”, questionava-se em 1916 o escritor Monteiro Lobato.

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