Por que, afinal continuar a falar da mise en scène nos dias de hoje, se o que vemos, desde a passagem dos anos 1990/2000, é o surgimento de um cinema que escapa à definição tradicional elaborada pelos jovens críticos dos Cahiers du cinéma, na década de 1950? A mise en scène, neste intervalo de 50 anos, teria se diluído, se tornado tão pouco aparente ou necessária aos filmes, que Jacques Aumont, a propósito de um filme desta nova leva, teria indagado “Será o fim da mise en scène?” indicando uma crise ou um certo mal estar que ronda, cada vez que o termo vem a tona. Se por um lado faz pouco sentido se falar em mise en scène como se falava há 60 anos, por outro, a carência de uma adequação do conceito que dê conta de apreender e expressar esta parcela da direção cinematográfica deixa evidente que discutir a mise en scène ainda possui uma função, mesmo que seja para dizer, a propósito destes filmes atuais, o que ele não é. José Carlos Oliveira Jr., em A mise en scène no cinema – do clássico ao cinema de fluxo, confronta o conceito definido anteriormente para falar dos filmes de diretores como Alfred Hitchcock, Howard Hawks, Fritz Lang e Otto Preminger, com o “cinema de fluxo”, termo cunhado em uma série de artigos por Stéphane Bouquet a propósito de filmes que surgem no final dos anos 1990 e continuam em voga. Esta oposição entre dois tipos de cinema existe desde os primórdios do cinema ou, podemos dizer, na própria gênese do dispositivo. Como o próprio autor salienta, o cinema se divide entre duas vocações: “contar histórias herdadas do romance do século XIX” e “promover um alargamento da percepção e permitir ao homem que descubra um novo acesso aos fenômenos”.
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