Quando o romance Os versos satânicos, do escritor indo-britânico
Salman Rushdie, foi publicado na Inglaterra em 1988, criou-se uma
grande controvérsia, que se espalhou pelo Ocidente e países de maioria
islâmica. O episódio, que revelou de forma contundente a oposição entre
os fundamentos ético-morais islâmicos e os do Ocidente e provocou graves
conflitos político-econômicos envolvendo tanto as potências ocidentais
como nações do Oriente, é o ponto de partida deste estudo de Luana
Hordones Chaves. Apesar de se tratar de uma obra de ficção, ao retratar o profeta Maomé e
personagens da religião islâmica de forma desrespeitosa, o livro
provocou revolta no mundo muçulmano e mesmo na Inglaterra, onde foi
queimado em praça pública em protesto contra as leis inglesas, que ate
então puniam a blasfêmia contra o Cristianismo. Manifestações contra a publicação foram observadas no Paquistão,
Turquia e Índia. Mas no Irã, a reação atingiu o ápice, quando o aiatolá
Khomeini, presidente da República Islâmica do Irã, mesmo sem recorrer às
leis do islamismo para justificar sua decisão, decretou sentença de
morte ao escritor e a todos os que estavam envolvidos com o livro, sob
acusação de blasfêmia. A fatwa (decreto) do líder iraniano provocou o
rompimento de relações diplomáticas da Inglaterra com o Irã e foi
condenada pela Conferência Islâmica por 44 dos 45 países participantes. Se por um lado a sentença de morte de Rushdie é carregada de
referências à lei islâmica e aos valores e concepção de vida próprios da
religião, por outro, as potências ocidentais condenaram a fatwa com
base nos direitos à vida e de liberdade de expressão garantidos pelos
Direitos Humanos. A autora analisa as relações entre Islamismo e Direitos Humanos e entre
Ocidente e Oriente, as quais perpassam a relação entre religião e
modernidade. E conclui a obra com um amplo debate sobre a questão da
universalidade dos preceitos contidos nos Direitos Humanos, tendo em
vista a interculturalidade.
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