Londres, 28 de agosto de 1854. Era verão, a cidade tinha um mau cheiro
insuportável, resultado do amontoado recente e desorganizado de mais de
dois milhões de seres humanos e seus dejetos. Em um bairro pobre da nova
metrópole, Sarah Lewis aproveitou que o seu bebê de seis meses dormira,
depois de horas de choro e diaréia, para colocar de molho os panos
usados pela criança doente. Após a limpeza, despejou a água em uma fossa
em frente à sua casa. Ela mal podia imaginar, mas começava aí uma das
grandes chagas da história da cidade. Uma epidemia de cólera se
espalhou pelos arredores em um ritmo avassalador, matando mais de 500
pessoas em apenas dez dias. Nesse mesmo momento, dois homens iniciariam
uma jornada científica em busca do mal causador da praga. O paradigma
da época era a chamada teoria do miasma, que apontava o ar 'sujo e
contaminado' como o grande transmissor das doenças que de tempos em
tempos atacavam os londrinos. Para um médico e cientista da época
chamado John Snow, no entanto, a teoria não convencia. A partir dessa
premissa, Snow passou a suspeitar da transmissão pela água. Defendeu
teses que foram motivos de deboche nos principais jornais da cidade, mas
que acabaram por convencer um padre local, Henry Whitehead, alarmado
com a morte desenfreada do seu rebanho. Na forma de um thriller
científico, O Mapa Fantasma narra a história da luta desses dois
homens contra o cólera. Sem contar com instrumentos microscópicos
capazes de identificar a origem da doença, Snow e Whitehead enfrentaram
uma mentalidade científica tão disseminada quanto equivocada, bem como
políticas públicas que, em vez de solucionar, alimentavam o problema.
Hoje, graças às experiências do dr. Snow e a perseverança do padre
Whitehead, dejetos humanos e água potável seguem caminhos distintos nas
grandes cidades do planeta. E a revolucionária vida urbana das
metrópoles que caracterizaria os tempos modernos pôde florescer.
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