Da razão já quase tudo se disse e, possivelmente, tudo resta por dizer. E ela também já foi quase tudo: deusa, luz, juiz, caminho, fonte, serva, rameira, louca, e assim por diante. Hoje, nos gabinetes e nas barracas dos filósofos, serenos ou perplexos em face do niilismo que proclamam, que os atrai ou ameaça, também já não tem a melhor das cotações. Não é, pois, despropositado ouvirmos uma voz, aparentemente já muito distante, quase ingênua, não obstante a auto-atestação da eficácia da civilização e do progresso histórico que ela, numa espécie de inocência ideológica mas melancólica, celebra e enaltece. É a voz de Ernest Renan, promotor, no seu tempo, de uma da religião da ciência [“A religião é saber e amar a verdade das coisas” – diz num dos seus livros], de um “culto puro das faculdades humanas”, de um credo racionalista que polariza todas as suas convicções. É uma voz que se distende entre a nostalgia da luminosidade helénica e a evocação algo dorida das “alegrias do crente” que foi na infância e na juventude, para sempre perdidas e desfeitas, substituídas pelos deleites da “busca do verdadeiro” e pelo périplo do “oceano pacífico. . . onde a única estrela é a razão”, ou ainda entre a sedução da retidão racional grega e o Ocidente ulterior com a ambiguidade de todos os seus produtos e criações.
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