Na conferência O que é um autor?, Michel Foucault se propõe a “analisar a
maneira pela qual a função autor se exercia, no que se pode chamar de a
cultura européia após o século XVII”, definindo sua empreitada no
âmbito da análise do discurso e excluindo a análise
histórico-sociológica do personagem do autor. É importante ressaltar que
Foucault não se propõe a apresentar uma teoria da função-autor, mas
indicar as linhas gerais de uma possibilidade de análise dessa
categoria. O texto aponta para dois pontos de partida dessa análise: de um lado, o
reconhecimento da própria “imprudência” em As Palavras e as Coisas
(1966), trabalho no qual Foucault reconhece ter utilizado ingenuamente
as unidades do autor, da obra e do livro para analisar as condições de
funcionamento de práticas discursivas específicas, para o que essas
unidades em si não interessam a não ser como funções discursivas. De
outro, a indiferença contida na formulação de Becket “Que importa quem
fala, alguém disse que importa quem fala”, na qual Foucault identifica
um dos princípios éticos fundamentais da escrita contemporânea, na
medida em que funciona como uma regra que domina a escrita como prática.
Diante do desaparecimento ou apagamento do autor e das duas noções
que, aparentemente estariam destinadas a substituí-lo [obra e escrita],
Foucault argumenta que a unidade autor é reatualizada tanto na obra
quanto na escrita. Grosso modo, a obra traz dificuldades quanto à
possibilidade de ser definida sem referência a um autor – seu autor; a
escrita, mesmo o estatuto originário do autor para si mesmo, recoloca,
em outros termos, a necessidade de algo no qual a criação se funde.
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