O livro em foco reúne quatro ensaios:
dois, recentes e inéditos, e dois publicados na década de setenta.
Trata-se, portanto, de um acerto de ponteiros apurado, concebido e
refinado ao longo de duas décadas: o livro, diz o autor, expõe "algumas
perplexidades que a releitura do romance machadiano ainda suscita neste
seu leitor contumaz". Essa perplexidade, o seu "desconforto moral" (sic)
diante dos melhores estudos sobre a questão da perspectiva em Machado,
constituem a pedra de toque do primeiro e mais recente ensaio, O Enigma do Olhar.
Bosi percebe um hiato entre o texto fonte machadiano e suas análises
críticas (inclusive, pode-se depreender, as de próprio punho), sendo a
intenção de seu texto diminuir "até os limites do possível" tal
intervalo, que, já de partida, é dado como "talvez, infranqueável". A proposta de Bosi é uma "abordagem flexível, interessada
não só no mesmo e no típico, mas também na diferença e singularidade."
Isso porque o olhar de Machado pode assumir diferentes formas, ora
coincidente com a ideologia de seu meio imediato, ora distanciado e
crítico. A luz, lembra-nos o autor, não deriva do quadro que ilumina.
Machado retrata com fidelidade os tipos característicos da sociedade
fluminense do final do século 19. Sua compreensão, contudo, bem como seu
estilo, não se limitam a esse contexto histórico e geográfico, e seus
personagens vão muito além desse jardim. Temos os tipos, é verdade, mas
também a construção elaborada de traços individuais e pessoais.
Metáforas e imagens preciosas dão conta da individuação de alguns
personagens, que escapam para longe das padronizações, "da vulgaridade
dos caracteres".
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