Em 2010, residindo por seis meses na Europa, o autor Fernando Ponte de
Sousa acompanhou e presenciou na Espanha uma convergência, ou uma
tríplice relação: um movimento pela memória histórica, como verdade e
justiça, uma crise econômica e social (mais vasta nos seus efeitos
cotidianos do que o noticiado pela grande mídia) e um nascente movimento
de contestação, cuidadosamente controlado pelas maiores centrais
sindicais e, ao mesmo tempo, rebelde e inconformado, por parte de
iniciativas autônomas, outras expressões de esquerda e a juventude
indignada. As diferentes gerações de contestadores pareciam não querer estabelecer
essa relação, afinal os repertórios das manifestações eram distintos e
expressando-se em datas diferentes. Mas a convergência se estabeleceu:
as instituições e o Estado que ainda sonegam uma completa memória
histórica são os mesmos que sonegam o real bem-estar social para todos,
cobrando dos jovens e dos trabalhadores o ônus de uma crise sistêmica. Trata-se de uma transição sem ruptura, da ditadura de Franco ao regime
de monarquia parlamentar. No quesito memória histórica – anistia e não
responsabilização dos agentes públicos acusados de crimes de violações
de direitos humanos –, a Puerta del Sol (em 24/4/2010), com o povo de
Madri apresentando-se numa grande manifestação pela Memória, Justiça e
Reparação, aproxima-se da Praça da Sé (21/8/1979), no Brasil, com o povo
de São Paulo manifestando-se num histórico ato público pela Anistia
Ampla, Geral e Irrestrita. Pelos desdobramentos históricos presentes,
esses tempos e lugares não são tão distantes nem tão distintos, afinal o
fascismo pode ter dado uma trégua, mas pode estar à espreita.
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