A questão das causas da reforma é complexa. Para tentar resolvê-la, é preciso ir direto ao essencial. O Protestantismo dá ênfase a três doutrinas principais: a justificação pela fé, o sacerdócio universal, a infalibilidade apenas da Bíblia. Esta teologia respondia certamente às necessidades religiosas do tempo, sem o que ela não teria conhecido o sucesso que foi o seu. A tese segundo a qual os Reformadores teriam deixado a Igreja romana porque ela estava repleta de devassidões e impurezas é insuficiente. No tempo de Gregório VII e de São Bernardo, existiam tantos abusos na Igreja como na época da Reforma. Não resultou daí contudo nenhuma ruptura comparável à do Protestantismo. Outro fato que deve nos esclarecer: Erasmo, tão duro no Elogio da Loucura (1511) para os padres, monges, bispos e papas do seu tempo, não aderiu entretanto à Reforma. Inversamente, quando, no século XVII, a Igreja católica tinha corrigido a maior parte das fraquezas disciplinares que podia-se legitimamente lhe censurar no século precedente, as diferentes confissões reformadas não procuraram regressar à obediência de Roma. As causas da Reforma foram então mais profundas que o desregramento de cônegos epicuristas ou os excessos de temperamento das freirinhas de Poissy (L. Febvre). Na Confissão de Augsburgo, quando se debaterem os abusos, não se tratará dos costumes dos monges, mas da comunhão sob uma única espécie, da missa instituída como sacrifício, do celibato eclesiástico, dos votos de religião, dos jejuns e abstinências impostos aos fiéis. Os Placards afixados em 1534 mesmo à porta dos aposentos de Francisco I causarão um escândalo enorme, mas porque eles atacaram a concepção católica da missa. Certamente os desvios disciplinares haviam tomado proporções escandalosas.
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