O
absurdo da vida moderna em uma cidade grande encontra em Ignácio de
Loyola Brandão um crítico cruel e impiedoso, com um humor agridoce que
pode ser, no fundo, simpatia, condescendência ou a suprema forma de
sarcasmo. Ou todas reunidas, batidas em liquidificador e bem misturadas.
Pode ser. Cabeças de Segunda-feira, com as suas situações insólitas,
suas frustrações e suas obscenidades, exprime um pouco desses
sentimentos, mas também a relação de amor e asco, fascínio e repulsa que
o autor mantém com a sua época e a cidade em que vive.
O livro divide-se em cinco grandes temas (a criação, o desejo, o amor, o
homem, a mente), que podem servir de inspiração para histórias de todo
tipo e formato, bem comportadas, quadradas, redondas. Loyola deles
extraiu uma mistura ácida de insólito e gozação, um pouco além ou aquém
da realidade (a anã pré-fabricada, a irrefreável parideira), e
flagrantes do caos urbano, em visão cínica e implacável: o gozo atrás
das árvores, obscenidades para uma dona de casa.
Mas há também lampejos de simpatia (em realidade simpatia e crueldade,
um jogo sadomasoquista com a personagem) pelos sonhadores frustrados,
quase sempre inofensivos, como no sarcástico “45 Encontros com Vera
Fischer”.
Simpatia e sarcasmo se aguçam ainda mais quando trata do sonhador
erótico que às mulheres de carne e osso prefere as mulheres
irresistíveis das revistas pornográficas (“Anúncios Eróticos”). A
fantasia superando a realidade, a fuga da vida, temas tão frequentes na
obra do autor.
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