O trabalho crítico de Deleuze e Guattari é de uma importância essencial
para o conhecimento da obra de Kafka, sendo a pessoa do escritor,
simultaneamente, bem reconhecível nessa exigência que Kafka se impunha
através da literatura. Deleuze e Guattari disponibilizam-nos a
arquitectura rizomática da obra, uma literatura frequentemente
escamoteada pelo artifício falacioso utilizado por alguns intérpretes. O
alemão, que Kafka nunca aceitou como língua materna, avivou, desse
modo, a sensibilidade excessiva e autêntica que o escritor sentia pela
linguagem, levou-o continuamente a uma confrontação com a tradição que o
rodeava: Kafka Judeu Checo escrevendo em alemão. Escrita de uma vivida
disjunção, literatura em diáspora, arrastada para um exílio intérmino, a
obra de Franz Kafka é, desta vez, submetida a uma apreciação que
ultrapassa, de muito, a análise possível, destituindo-a do pressuroso
miserabilismo que todos os disparatados mitógrafos lhe atribuíram, ao
autor e à obra.
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