Este livro é em essência uma tentativa de recuperar e atualizar uma
importante tradição da ciência social brasileira: a preocupação com os
grandes problemas da organização política nacional, ou, como se diz
hoje em dia, com o "modelo político". Inscreve-se, portanto, como
proposta, na linha de Alberto Torres, de Oliveira Vianna, Victor Nunes
Leal, Raymundo Faoro, e tantos outros. E como estes ilustres
antecessores, apoia-se em uma revisão ampla e rigorosa das tendências de
nossa formação histórica, dialogando com as mais diversas correntes de
interpretação e mesmo acrescentando-lhes, em diversos pontos, pesquisas
oniginais. Contém, neste particular, uma dupla crítica, que certamente
irá gerar uma polêmica das mais fecundas: de um lado, contra as
teorizações demasiado abstratas sobre o desenvolvimento, sem adequado
apoio na pesquisa histórica; de outro, contra certa modalidade de
pesquisa histórica que, a pretexto de evitar a teorização vazia,
converte-se em ingênuo empiricismo, ou, pior ainda, em petrificação
dogmática, avessa a novas indagações e novas perspectivas de análise. Substantivamente, a tese básica do livro é a de um desenvolvimento
contraditório. no processo histórico brasileiro, entre a tendência ao
fortalecimento do poder central, em moldes burocrático-patrimoniais, e
as crescentes demandas de representação e autonomia por parte da
"sociedade civil". O autor vê no estado de São Paulo a singularidade de
um desenvolvimento histórico mais próximo ao modelo "representativo" e
antiburocrático, contrapondo-se ao padrão "'cooptativo" do poder central
e das demais regiões do país. Estabelece, assim, uma clivagem básica
entre estruturas e processos simultaneamente tendentes ao autoritarismo e
ao liberalismo. É ainda com base nesta hipótese que empreende, no
último capítulo do livro, importante esforço de avaliação crítica do
atuli debate sobre a institucionalização de um "modelo político
brasileiro".
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