Na França, nas décadas anteriores à Revolução Francesa,
Jean Calas, um comerciário protestante da cidade de Toulouse, foi
acusado de assassinar o filho, que queria se converter ao catolicismo. A
sentença foi a pena de morte, e a execução – no suplício da roda, sob
tortura – ocorreu em 1762. Voltaire, convencido da inocência do
condenado, denunciou a injustiça e escreveu Tratado sobre a tolerância,
texto com o qual iniciou uma campanha para sua reabilitação. O caso
ganhou proporções enormes, transformando-se numa triste metáfora dos
conflitos religiosos que há séculos grassavam no país. Graças à
repercussão deste libelo, em 1765, Jean Calas foi postumamente
inocentado. Com uma ironia ferina e seu estilo
inimitável, o filósofo iluminista faz um apelo em prol do respeito aos
credos e da liberdade religiosa. Escrito em 1763, Tratado sobre a tolerância
revela-se hoje, dois séculos e meio depois, uma reflexão atualíssima
sobre o sistema judiciário, sobre a responsabilidade dos juízes e sobre
os efeitos perversos que as leis podem ter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário