Organizada e apresentada por Regina Zilberman, esta coletânea de
crônicas dá sequência ao projeto da Companhia das Letras de publicar uma
amostra significativa das crônicas escritas por Moacyr Scliar ao longo
de mais de trinta anos de colaboração com o jornal Zero Hora, de Porto Alegre. A literatura e a medicina são dois eixos constantes na imaginação de
Scliar: incansavelmente, o escritor — ele próprio médico sanitarista —
voltou aos temas que o apaixonavam. Em sua concepção, ambos estão
vinculados pela palavra. Assim, nestas crônicas desfilam médicos
escritores (dos primórdios de Galeno e Vesálio até Thomas Mann, Tolstói e
Molière); recordações dos anos de estudante na faculdade de medicina em Porto
Alegre; histórias da prática médica; escritores doentes e o modo como
lidaram com as próprias limitações físicas; escritores que escreveram
sobre medicina… E ainda, numa outra vertente, questões políticas e éticas, como a
colaboração de alguns médicos com a ditadura, tanto no Brasil como em
outros regimes autoritários. O humor de Scliar funciona mais no registro
da malícia que no da ironia; é ele o responsável pela leveza
encantadora dessas crônicas, que não se furtam à gravidade de muitas das
questões que abordam, a começar pela maior delas, âmago tanto da
literatura como da medicina. Para o escritor, a medicina opera “pequenas ressurreições” diante do
“aguilhão da morte”. “A última palavra é a da Morte. Mas enquanto ela
não chega a medicina tem muito a dizer.” E a literatura também.
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