O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e
paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em
retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro. Apesar desse
sentimento de transbordante solidariedade e compaixão com que a
narrativa acompanha a miúda saga do vaqueiro Fabiano e sua gente, o
autor contou: “Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo
que mora na zona mais recuada do sertão… os meus personagens são quase
selvagens… pesquisa que os escritores regionalistas não fazem e nem
mesmo podem fazer …porque comumente não são familiares com o ambiente
que descrevem…Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. A
minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda. As pessoas
adultas, preocupadas com o estômago, não tem tempo de abraçar-se. Até a
cachorra [Baleia] é uma criatura decente, porque na vizinhança não
existem galãs caninos”. Vidas Secas é o livro em que Graciliano, visto
como antipoético e anti-sonhador por excelência, consegue atingir, com o
rigor do texto que tanto prezava, um estado maior de poesia.
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