Todos os dias indivíduos normalmente inteligentes e classes sociais
inteiras são feitos de tolos para que a reprodução de privilégios
injustos seja eternizada entre nós. Para enxergar com clareza nosso real
lugar no mundo, é fundamental compreender como nossa elite intelectual
submissa à elite do dinheiro construiu uma imagem distorcida do Brasil
de modo a disfarçar todo tipo de privilégio injusto. Os poucos que hoje
controlam tudo precisam desse “exército de intelectuais” do mesmo modo
como os coronéis do passado precisavam de seu pequeno exército de
cangaceiros. Com uma abordagem teórica e histórica inédita, este livro
oferece um caminho para devolver ao brasileiro a possibilidade de
compreender as reais contradições de sua sociedade.Nos bolsos do 1% mais
rico da população brasileira, está o resultado do trabalho dos 99%
restantes. E assim é há muito tempo, diante do olhar passivo de toda a
população. Se a maioria subjugada raramente levanta a voz contra esse
estado de coisas, é porque a violência física que antes permitia uma
desigualdade tão grande e uma concentração de renda tão grotesca foi
substituída, no Brasil formalmente democrático de hoje, por uma espécie
de “violência simbólica”, que se disfarça em convencimento pelo melhor
argumento. Ao dominarem todas as estruturas do poder, da informação e da
inteligência, os privilegiados monopolizam os recursos que deveriam ser
de todos e abrem caminho para a exploração do trabalho da imensa
maioria sob a forma de taxa de lucro, juros, renda da terra ou aluguel.
Tamanha violência simbólica só é possível pelo sequestro da inteligência
brasileira em prol desse 1% mais rico, que passa a monopolizar os bens e
recursos escassos, sejam materiais ou ideais. Em vez de apontar para as
causas reais da concentração da riqueza social e para a exclusão da
maioria, essas concepções de intelectuais servis ao poder nos levam a
acreditar que nossos problemas advêm da “corrupção apenas do Estado”,
levando a uma falsa oposição entre o Estado demonizado, tido como
ineficiente e corrupto, e um mercado visto como reino de todas as
virtudes. Como as falsas contradições estão sempre no lugar de
contradições reais, este livro é um apelo à inteligência viva dos
brasileiros de modo a desvelar os mecanismos simbólicos que possibilitam
a reprodução de uma das sociedades mais desiguais e perversas do
planeta.
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