“Aquários recortados na uniforme escuridão encerram regiões de
imortalidade, mundos de luz solar constante onde não há chuva nem
nuvens. Seus habitantes fazem, sem parar, evoluções cuja complexidade,
por não ter nenhuma razão, parece ainda mais sublime. Exércitos azuis e
prateados, mantendo uma distância perfeita apesar de serem rápidos como
flecha, disparam primeiro para um lado, depois para o outro. A
disciplina é perfeita, o controle, absoluto; a razão, nenhuma. A mais
majestosa das evoluções humanas parece fraca e incerta comparada com a dos peixes.” É Virginia Woolf, em “O sol e o peixe”, ensaio que dá título à
presente coletânea, na qual se reúnem nove de suas prosas mais poéticas.
Nelas, Virginia contrasta a visão de um eclipse total do sol com a dos
peixes num aquário de Londres; discorre sobre Montaigne e sobre a paixão
da leitura; relembra, em traços delicados e comoventes, a convivência
com o pai; teoriza sobre a nascente arte do cinema e sobre as relações
entre a literatura e a pintura; enaltece as paradoxais vantagens de se
ficar doente; celebra as belezas naturais de Sussex e as delícias
urbanas de uma caminhada fortuita por Londres. Eis aqui Virginia, em
toda a força poética de sua prosa.
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